Dar cabaças, é uma expressão cigana que, em termos gerais, significa terminar um relacionamento, namoro ou casamento, entre um homem e uma mulher.
Segundo a tradição cigana, apenas as mulheres podem dar as cabaças e nunca os homens. Por exemplo, se um rapaz gostar de uma rapariga e a pedir em casamento, se for correspondido ficam noivos e planeiam o casamento, mas se a rapariga não gostar do rapaz ou não quiser casar com ele, a mesma fala com a mãe ou com uma tia mais chegada, para informar que não gosta do rapaz e que não se quer casar com ele. Em seguida será a mãe ou tia da rapariga a transmitir ao pai da mesma a sua recusa na proposta, e é então o pai da rapariga vai falar com o pai do rapaz para informar da situação e dar as cabaças, eventualmente acompanhada de alguma justificação para a recusa da rapariga. Neste caso o dar cabaças, significa o fim de um noivado.
Também num casamento é possível dar as cabaças, pois quando o amor acaba ou por qualquer outra razão pela qual o casal ache que se deve separar, na etnia cigana em vez do divórcio, utiliza-se a expressão dar as cabaças, para colocar um ponto final na relação. Esta situação só ocorre se a mulher quiser, porque se ela não concordar, nada feito. Mesmo que o homem se queira separar, tem que ser a mulher a autorizar a separação e a dar as cabaças ao homem, para que a relação termine.
Muitas vezes, numa relação cigana, é utilizada a expressão “dar um tempo” e nessa fase vivem os dois separados durante meses ou até mesmo anos, conforme ficar decidido, mas quando termina esse tempo, o membro do casal que saiu de casa, tem que voltar obrigatoriamente, a menos que a mulher decida pôr um ponto final e dar as cabaças ao marido, com forma de o libertar da relação. Este tempo de pausa na relação, pode ser pedido quer pelo homem ou mulher, sendo que a decisão de terminar a relação é da exclusiva responsabilidade da mulher.
Na sociedade em geral, quando se ouve a expressão “dar as cabaças”, associa-se ao dar um objeto, sendo que só no seio da comunidade cigana é que se conhece o verdadeiro significado desta expressão.
Trata-se de mais um exemplo da especificidade da cultura cigana, que tenta manter ao máximo muitas das suas tradições.
“Samaritana Marques, Mediadora Municipal e Intercultural”
Crónica do projeto InterCOOLturas - Mediadores Municipais e Interculturais (POISE-03-4233-FSE-000036) promovido pela Câmara Municipal de Castelo Branco em parceria com a Amato Lusitano - Associação de Desenvolvimento com o objetivo de apresentar uma forma simplista como diferentes áreas que compõem o quotidiano do povo cigano e também algumas curiosidades.
