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Crónica: A Voz do Cigano – O Fugimento

30/10/2020

Antigamente para os rapazes e raparigas poderem falar e namorar, tinham que ter intermediários, aos quais se chamava de “alcoviteiros”.

Quando os rapazes gostavam de uma rapariga, mandavam um recado por um primo ou um amigo, a informar que queriam namorar com aquela rapariga e então esse tal amigo ou primo dava o recado a uma amiga ou alguma prima mais chegada dessa rapariga e assim corria a mensagem, de recado em recado, passando por várias pessoas, até chegar ao próprio. Mas, neste processo, o mais importante era a resposta.

Quando o rapaz e a rapariga se cruzavam em alguma ocasião, nunca se olhavam de frente, desviavam sempre o olhar e nem se falavam, quer por vergonha, quer porque nunca se encontravam sozinhos.

Aqueles que eram mais espevitados e menos envergonhados, mandavam recados pelos “alcoviteiros” para combinarem encontros às escondidas, mas mesmo assim, iam sempre acompanhados a esses encontros.

Por vezes, os amigos deixavam o casal alguns minutos sozinhos ou com a ajuda destes, o casal combinava o “fugimento”, ou seja, o rapaz mandava recado à rapariga, a investigação se queria fugir e se a rapariga aceitasse o rapaz então pensava onde pode ir e como estudar fazer para fugirem.

Então, o rapaz mandava recado pelos amigos, os tais “alcoviteiros”, para avisarem a rapariga, através das suas amigas, que a uma fornecida hora, não existe local combinado.

A esse encontro, por norma aparecia o rapaz e a rapariga, com os respectivos amigos e depois o casal seguia sozinho, sendo que durante uma hora ou mais, ninguém sabia onde eles estavam.

Por vezes os pais achavam a falta deles e começavam a procurá-los, outras vezes os “noivos” apareciam em casa de uns tios ou de outros familiares mais chegados e informavam que tinham fugido.

Então esses familiares entravam em contato com a família dos “noivos” a avisar que o casal tinha fugido e que apareceram na casa deles e lá ia a família toda da rapariga e do rapaz, ter com eles.

As mulheres mais velhas perguntavam à rapariga se tivesse relações sexuais com o rapaz e se a rapariga dissesse que sim, era considerado que já estavam casados. Mas se ainda nada acontecido, então o casamento era marcado para o mais rápido possível, no espaço de uma semana ou até 2 ou 3 dias, tudo depende dos pais dos noivos, pois
segundo a tradição, uma rapariga que foge, tem que casar. 

Hoje em dia já não é preciso os tais “alcoviteiros” para marcar estes encontros entre os rapazes e as raparigas, porque com as redes sociais os encontros são marcados mais facilmente e diretamente. 

Os tempos são outros, os rapazes e raparigas desde cedo vão comunicando, vão-se conhecendo, sem a vergonha de outros tempos.

E quando existe um “fugimento”, não existem intermediários, pois é o casal que combina tudo sozinho, mantendo sim a tradição de depois aparecerem juntos, em casa de familiares para apressarem a realização do casamento.

 

“Samaritana Marques, Mediadora Municipal e Intercultural”

 

Crónica do projeto InterCOOLturas - Mediadores Municipais e Interculturais (POISE-03-4233-FSE-000036) promovido pela Câmara Municipal de Castelo Branco em parceria com a Amato Lusitano – Associação de Desenvolvimento com o objetivo de apresentar de uma forma simplista as diferentes áreas que compõem o quotidiano do povo cigano e também algumas curiosidades.

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