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30/10/2020
Há cerca de 40 anos, “Zé Espanhol” era um cigano muito popular entre o concelho de Castelo Branco e Idanha a Nova, principalmente nas localidades de Monforte da Beira, Malpica do Tejo, Lentiscais, Rosmaninhal e aldeias anexas, Cegonhas, Couto do Correias e Soalheiras.
Toda a gente conhecia o “Zé Espanhol” e no início da primavera esperavam ansiosamente por ele para tosquiar os burros e mulas e fazer algum negócio de animais.
Os nossos ancestrais recorriam ao recurso do arado e charrua para cultivar como suas terras e como meio de transporte, sendo que para isso, precisavam de animais, tal como uma parelha de machos burros, mulas ou bois.
No início da primavera os burros e machos precisavam de ser tosquiados e por essa altura, o “Zé Espanhol” iniciava a sua visita às vilas e aldeias à procura de quem precisasse de tosquiar os animais.
Quando chegava às aldeias, uma mensagem espalhava-se e como as pessoas traziam-lhe os animais para que ele os tosquiasse. A afluência era tanta que se chegavam a reunir um número aumentado de pessoas que aguardavam a sua vez e nesse intervalo de espera ainda se faziam alguns negócios e trocas de animais.
“Zé Espanhol” era reconhecido como um homem sério e que não enganava ninguém. Conhecia todas as pessoas das várias vilas e aldeias pelo próprio nome e por este motivo havia uma grande confiança e facilidade em fazer negócio.
Na arte da tosquia, tinha um corte diferente para machos ou burros, sendo que nos machos desenhos com ramagens nas coxas, nádegas e nalguns também na fronte, pescoço e crina. Também ao nível dos cascos, era ele quem ferrava os animais e cuidava da manutenção dos mesmos.
Também na saúde dos cavalos, “Zé Espanhol” tinha conhecimento, sobretudo em como curar a chamada “boca escaldada”, que se tratava de uma infeção muito nos cavalos comuns, derivada dos animais passarem todo o inverno a
comer palha seca e por esse motivo surgir na boca do animal uma bolha. Essa bolha era picada com o pico de uma fivela e depois lavada com vinagre, sendo que após este procedimento, por norma o animal começava a comer sem
nenhum problema.
Todos estes motivos faziam com que “Zé Espanhol” fosse um cigano muito popular e bem-vindo em todas as localidades, sendo muito apreciada a sua companhia.
Além disso, era partidário, solidário e humilde, motivo pelo qual nunca viajava sozinho. Nesta caravana de ciganos, se algum deles conseguisse trabalho, em troca de alguns alimentos, os mesmos eram repartidos por todos os membros do grupo.
Era também um homem de razões conhecido como “patriarca”, pois sempre que possui que “dar” uma razão ou “lei”, tentava fazer com que ambas as partes ficassem bem, ou seja, o menos prejudicadas possível, o que não era muito usual na figura de um patriarca, que era suposto ver o lado certo e o lado errado.
“Zé Espanhol” era um homem de muita humanidade e popularidade, não havendo festa ou casamento em que não fosse convidado, pois era ele que organizava, controlava e alegrava as festas. E até mesmo quando os ânimos se exaltavam, lá estava o “Zé Espanhol” para atirar um balde de água fria para tudo correr bem.
“Joaquim Rosendo, Mediador Municipal e Intercultural”
Crónica do projeto InterCOOLturas - Mediadores Municipais e Interculturais (POISE-03-4233-FSE-000036) promovido pela Câmara Municipal de Castelo Branco em parceria com a Amato Lusitano - Associação de Desenvolvimento com o objetivo de apresentar uma forma simplista como diferentes áreas que compõem o quotidiano do povo cigano e também algumas curiosidades.