Instituído em 1999 pelas Nações Unidas, este dia homenageia as irmãs Mirabal: Patria, María Teresa e Minerva, conhecidas como “Las Mariposas”, brutalmente assassinadas em 1960 pelo regime ditatorial de Rafael Trujillo, na República Dominicana. A data relembra a sua coragem e evidencia que a violência contra as mulheres permanece uma das violações de direitos humanos mais frequentes e transversais em todo o mundo. Globalmente, uma em cada três mulheres já foi vítima de violência física e/ou sexual ao longo da vida.

Em Portugal, os números continuam alarmantes. Apenas no primeiro semestre de 2025, a GNR e a PSP registaram 14 769 ocorrências, sendo 69% das vítimas mulheres e meninas. Os dados mais recentes do Observatório de Mulheres Assassinadas, da UMAR, indicam que, até novembro de 2025, pelo menos 24 mulheres foram assassinadas, na sua maioria vítimas de feminicídio.

Culpabilização das vítimas: uma realidade que persiste

Apesar dos avanços sociais e legais, continuam a perpetuar-se discursos que desresponsabilizam os agressores e culpabilizam as vítimas, colocando nelas o peso da violência sofrida. Em espaços públicos, privados, mediáticos e até institucionais, expressões como “meteste-te a jeito”, “ela devia estar bêbeda” ou “com essa saia, estavas mesmo a pedir” seguem presentes, normalizando práticas discriminatórias e dificultando o pedido de ajuda.

Nas próprias relações abusivas, este tipo de narrativa é frequentemente utilizado como forma de controlo e manipulação emocional, aumentando o sofrimento e o isolamento das vítimas, que muitas vezes:

• Sentem que são responsáveis pelo comportamento do agressor;
• Desvalorizam a gravidade dos abusos;
• Receiam não ser acreditadas ou ser julgadas;
• Demonstram descrença perante a justiça;
• Adiam ou evitam pedir ajuda, prolongando o ciclo de violência.

No presente ano, e com referência a setembro de 2025, registou-se um total de 123 novos casos em acompanhamento, além de 44 casos que transitaram de anos anteriores. São ainda acompanhadas a nível psicológico 67 crianças e jovens, das quais 24 são novos casos.

A ALAD dispõe também de um CAEV | Centro de Acolhimento de Emergência para Vítimas de Violência Doméstica que, até setembro de 2025, recebeu 74 novos acolhimentos, garantindo segurança, dignidade e apoio imediato a quem mais necessita.

A campanha “Cuidado com o que ele não gosta” pretende tornar visível este padrão de culpabilização, alertando para a forma como expressões e comportamentos normalizados continuam a legitimar a violência exercida contra mulheres e raparigas.

Apresentação pública e intervenção visual

A sessão pública de apresentação da campanha decorreu na Câmara Municipal de Castelo Branco, onde foi instalada uma intervenção visual com um estendal composto por peças de roupa, acompanhadas de cartazes com frases que representam discursos de culpabilização frequentemente direcionados às vítimas. A instalação pretende evidenciar, de forma clara, como estes julgamentos sociais contribuem para a perpetuação do abuso.

A campanha prolonga-se até 10 de dezembro de 2025, Dia Internacional dos Direitos Humanos, no Anfiteatro do Parque Urbano da Cruz do Montalvão.

Compromisso com a prevenção e o apoio às vítimas

Com esta iniciativa, a ALAD e os seus parceiros reforçam o compromisso contínuo com a prevenção da violência de género e a promoção dos direitos das mulheres, chamando a atenção para a urgência de eliminar narrativas e práticas que comprometem a dignidade, liberdade e segurança das vítimas.

Relembramos que qualquer pessoa pode denunciar situações suspeitas de violência doméstica junto dos serviços do Ministério Público, PSP ou GNR.

A EAVD | Estrutura de Atendimento, Acompanhamento e Apoio Especializado a Vítimas de Violência Doméstica, apoia na denúncia efetiva de situações de violência, nomeadamente ao nível de informação jurídica, do apoio emocional/psicológico e do apoio social. Os serviços são gratuitos e confidenciais.

Morada
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