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17/06/2025
No âmbito da iniciativa "Juntos Aqui", que assinala as celebrações do Dia Mundial do Refugiado, a Amato Lusitano - Associação de Desenvolvimento recolheu vários testemunhos de pessoas refugiadas que vivem em Castelo Branco, bem como de pessoas que trabalham diretamente com esta população.
Refúgio: Histórias de quem foi obrigado a fugir
Testemunho de José
"Para mim, Portugal foi, e é, uma oportunidade.
Fui muito bem acolhido, e aqui encontrei pessoas com amor, generosidade e respeito umas pelas outras.
Concretizei um dos meus maiores sonhos: participar no Got Talent Portugal. E hoje,
com gratidão, posso dizer que estou a trabalhar como professor de dança, um part-time que me permite continuar a fazer o que amo.
O futuro? Quero alcançar estabilidade, trazer o meu filho e continuar a minha carreira
musical. Porque quando temos apoio, conseguimos dar os passos certos."
- José (Mr. AIZY), 23 anos | Angola
Testemunho de Mehdi Haidari
"Sou o Mehdi Haidari, tenho 22 anos e nasci no Afeganistão - um país marcado por
anos de guerra, que deixou famílias destruídas, crianças órfãs e mulheres privadas dos
seus direitos.
Aos poucos, percebi que para ter um futuro teria de partir. Deixei a minha terra e a
minha família com o coração pesado, e enfrentei perigos em vários países até chegar a
Portugal. Foi aqui, em Castelo Branco, que encontrei segurança e um novo rumo.
Nos últimos três anos, lutei por recomeçar. Estudei culinária durante um ano e ganhei
experiência profissional como chef. Hoje trabalho na área alimentar com orgulho e
dedicação. Não foi um caminho fácil, mas mantenho-me firme: foco-me nos meus
objetivos, acredito em mim e não aceito o fracasso.
Sei o quanto percorri para estar aqui. Continuo a lutar por um futuro melhor - por
mim e pela minha família.
- Mehdi Haidari, 22 anos | Afeganistão
Testemunho de Karim (nome fictício)
"Tenho 19 anos, venho do Bangladesh e a minha viagem foi longa ,passei por vários
países e enfrentei muitos desafios. Ser refugiado não é só fugir, é procurar um lugar
para recomeçar.
Em Castelo Branco, encontrei mais do que abrigo: encontrei uma família. Pessoas e
instituições que me acolheram, que me ajudaram a encontrar uma escola e um
trabalho na área da hotelaria, onde me sinto valorizado e feliz.
Hoje sou empregado de hotelaria, tenho orgulho no que faço e sei que posso sempre
contar com o apoio de quem me rodeia."
- Karim (nome fictício), 19 anos | Bangladesh
Testemunho de Zia
"Sou o Zia, tenho 22 anos e venho do Afeganistão - um país que vive em guerra há
mais de 40 anos. Vim para a Europa à procura de uma vida melhor e passei por vários
países até chegar a Portugal.
Hoje sou carpinteiro. Trabalho com dedicação e esforço, porque acredito que cada dia
pode ser um passo para um amanhã melhor.
Viver em Portugal dá-me força para acreditar em mim. Aqui, encontrei espaço para recomeçar."
- Ahmed Zia Ibrahimi (Zia), 22 anos | Afeganistão
Testemunho de Vítor Fernandes
Vítor Fernandes, responsável pelo restaurante Don Vitorine, em Castelo Branco,
partilha com simplicidade e entusiasmo a experiência de ter acolhido um jovem
refugiado na sua equipa.
“O convite veio da Amato Lusitano - Associação de Desenvolvimento. Aceitei sem saber bem o que esperar - e posso dizer que foi uma excelente decisão. No início, ele não falava português… e hoje já quase fala melhor que nós!”, conta entre sorrisos.
O jovem começou por conciliar os estudos com o trabalho em regime parcial. “Foi uma
espécie de meio-termo durante seis meses. Depois passou a tempo inteiro, e está
connosco há cerca de um ano, sempre com muita dedicação.”
Vítor deixa ainda um apelo direto a outros empregadores: “Muitas vezes temos reticências porque a pessoa não fala a língua, mas devíamos dar oportunidades. Há pessoas muito boas. Esta foi uma experiência muito positiva - para mim, para a equipa e, acredito, também para ele.”
- Vítor Fernandes, Responsável do Restaurante Don Vitorine
Testemunho de Alice Jorge & Priscilla Antunes
Empregabilidade e Integração:
"Quando uma pessoa refugiada chega até nós, ao CLAIM | Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes e ao GIP | Gabinete de Inserção Profissional, sabemos que uma das maiores barreiras à integração é o acesso ao emprego. Por isso, a nossa intervenção é imediata, personalizada e centrada nas necessidades de cada pessoa.
Desde o primeiro contacto, apoiamos na aprendizagem da língua portuguesa, na elaboração de currículos, no registo no centro de emprego e no acesso a medidas de apoio à contratação e formação profissional. Também asseguramos que toda a documentação esteja regularizada, facilitando o processo de integração no mercado de trabalho.
A diferença cultural é outro desafio significativo. A rotina laboral, os horários e a deslocação para o local de trabalho fazem parte da cultura portuguesa, mas podem ser encarados de forma diferente por quem chega de realidades muito distintas. Por isso, cada atendimento é individualizado. Preparamos as pessoas para entrevistas de emprego, explicamos como responder a perguntas, a importância da pontualidade, da higiene no trabalho e da assiduidade. Organizamos ainda sessões coletivas sobre técnicas de procura ativa de emprego, e fornecemos informações práticas sobre a cidade, os transportes, a indústria e o comércio local.
Muitas vezes, as pessoas refugiadas chegam sem rede de apoio, sem contactos, sem conhecer a cidade ou os nossos costumes. Cabe-nos a nós fazer a ponte entre a pessoa e o mercado de trabalho, agilizar processos e sensibilizar os empregadores para a contratação de pessoas refugiadas. Ainda há dúvidas na sociedade - “um refugiado pode trabalhar?” - e é importante esclarecer: sim, uma pessoa refugiada está legalmente autorizada a trabalhar em Portugal.
Atualmente, temos 165 currículos ativos que enviamos regularmente para ofertas de emprego. Só nas últimas semanas, enviámos 59 candidaturas, sendo que um mesmo currículo pode ser submetido a várias oportunidades. Estimamos que, em média, enviamos entre 150 a 200 currículos por mês.
Desde o início de 2024, conseguimos acompanhar a integração profissional de 86 pessoas refugiadas. Este ano, mais 11 pessoas já conseguiram emprego com o nosso apoio.
Acreditamos que o trabalho é uma das chaves para a autonomia, dignidade e inclusão. E é com esse compromisso que continuamos a construir pontes, todos os dias."
- Alice Jorge, Técnica do CLAIM Castelo Branco & Priscilla Antunes, Técnica do GIP Castelo Branco